segunda-feira, 1 de julho de 2013

MORRER de Lisélia de Abreu Marques

Há alguma coisa lá fora, e não sei o que é.

Aqui, dentro do crânio, tudo é escuro, e imagino como será lá fora.

Tenho a percepção da solidez das coisas, mas não posso afirmar que a solidez existe.

Tudo é ilusão. A matrix criada a partir das minhas memórias e significados.

Onde está a verdade?

Se a matrix é energia, então posso manipular a matrix. Manipular o que há: energia.

Criar a partir do masculino e do feminino, da ação e da espera. Pausar. Como numa dança. Deixar de ser personagem para ser autora. Tomar posse da minha capacidade criativa.

Me despir de quem possa imaginar que sou. Abrir mão de mim mesma. Não preciso da limitação de uma personalidade, de referências fixas. Posso me despir de mim mesma.

Deixar de acreditar nos 5 sentidos, ir além deles, esvaziar as minhas criações, apagar todos os incêndios que comecei.  Despoderar todas as entidades que criei, esvaziar.

Nada importa, apenas ser. Apenas estar. Soltar, abrir mão das certezas, das crenças, desvalorar.  

Tudo é ilusão. Abaixar as armas e cessar as batalhas, calar as preocupações tagarelas e neuróticas, desacreditar...

Desmanchar, destituir, desfazer, deixar de ser, desidentificar, largar a lança, integrar.

Morrer.  Se morrer for como uma gota d´água que volta pro mar, deve ser muito bom.